19 dezembro 2004
Construção
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado
Chico Buarque, 1971
18 novembro 2004
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17 outubro 2004
04 outubro 2004
17 setembro 2004
20 agosto 2004
Mariana regressa a casa. Desespera por um relaxante banho de sais. Antes espera-a o cheiro da multidão que como ela regressa depois de uma semana em Agosto chuvoso. As férias já foram e com elas os filhos, que por estes dias ficam com o ex-marido no apartamento que foi dos dois, na Costa da Caparica. Frusta-a a facilidade com que ele a convenceu, como sempre a convenceu de tudo, mesmo quando a abandonou. Quase refeita, vai de fim-de-semana com as amigas, para um apartamento alugado em Tróia. Hoje ainda há cinema e pipocas, uma comédia romântica qualquer, e um copo algures.
"Estou viva", murmura repetidamente
11 agosto 2004
em dias já algo distantes entrei, ainda ensonado, numa pequena padaria na av. de berna, já não muito distante do campo pequeno. passavam os minutos antes de uma entrevista de emprego, quando fui resgatado ao nervosismo por um odor salivante a pão fresco. entrei, percorri a bancada com o olhar distante no pão fresco que em miudo comprava numa padaria perto de casa, daquelas onde a lenha perfuma e tempera. pedi uma bola, daquelas, se faz favor. obrigado. quanto é?
enquanto espero resposta, entra uma voz familiar, daquelas que facilmente reconheço mas não associo à pessoa (faço o mesmo com as caras, admito), não espera pela sua vez, está com pressa, avisa, é atendido e despede-se: até amanhã às oito...
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