Todos nós temos momentos em que sentimos um orgulho muito grande quando alguém que nos está, mais ou menos próximo, obtém algum sucesso. Foi assim que me senti (e ainda sinto) quando ontem à noite soube que o Nelson tinha ganho a categoria de reportagem no Prémio Fotojornalismo Visão/BES. Mas para lá do orgulho, o que mais me regozija é a justiça do reconhecimento do trabalho de alguém que, ciente das suas capacidades, arriscou largar uma vida profissional já estabelecida para se dedicar de corpo e alma ao fotojornalismo. Após, ainda há menos de um ano, ter sido galardoado com o prémio Novos Talentos da Fnac, este agora fotógrafo da [kameraphoto], não poderia desejar melhor início de carreira.
31 março 2007
26 março 2007
[Kgaleria]
Para comemorar o seu 2º aniversário a [Kgaleria] apresenta TXT, um novo projecto do colectivo [Kameraphoto].
O que vemos quando olhamos para um texto? TXT convida o visitante a confrontar o seu imaginário visual com a realidade das imagens.
TXT permite a aquisição de imagens dos fotógrafos da [Kameraphoto] a um preço simbólico de €10.
O colectivo [Kameraphoto] é composto por:
Alexandre Almeida, António Júlio Duarte, Augusto Brázio, Céu Guarda, Guillaume Pazat, João Carvalho Pina, Jordi Burch, Martim Ramos, Nélson D´Aires, Pauliana Valente Pimentel, Pedro Letria, Rui Xavier, Sandra Rocha, Valter Vinagre.
Inauguração da exposição TXT:
29 de Março a partir das 18h30.
[Kgaleria]
Rua da Vinha 43A – Bairro Alto Lisboa
4ª a Sáb das 15h às 20h
Tel: 21 343 16 76
kgaleria@kameraphoto.com
24 março 2007
19 março 2007
15 março 2007
11 março 2007
04 março 2007
Álvaro é um amigo que viaja com alguma frequência. Afazeres profissionais, mas principalmente a volúpia, fizeram-no percorrer caminhos em várias partes do mundo. Alguns dos destinos já estão mais certos que outros, e em Havana e Paris encontrou amigos que visita com a regularidade possível. Na sua última viagem a Cuba calhou-lhe em sorte a companhia de uma jovem porto-riquenha que seguia até à Venezuela. Sentiu alguém sentar-se a seu lado, abriu os olhos, e o seu benfiquismo exacerbado recusou desviar o olhar de uma blusa vermelha de decote decentemente insidioso.
Ainda no início das muitas horas em que o voo cruza o Oceano, Consuelo mete conversa, naquele estilo ibero-americano alegre de viver, e compartilha algumas das suas histórias com o meu amigo. Trabalha em Caracas, no sopé do Ávila, há já dois anos. Nem parecia tanto tempo, desde que abandonou as fortalezas de San Juan, para seguir uma amiga com quem compartilha um apartamento. Toca piano e quando pode dá aulas, diz ela, enquanto ele não baixa guarda aos olhos de verdes de Consuelo - Eram um consolo, juro-te! O Álvaro é um tipo fechado, pouco fala, e muito menos de si, mas aos poucos é-lhe arrancada a profissão. É bancário, solteiro, e padece de uma misoginia mal resolvida. Afinal até gosta de mulheres, mas companhia certa é não é coisa que admita no seu espaço, onde até tem um Steinway onde assustadoramente martela Chopin. Já perto do fim da viajem, Consuelo confidencia que trabalha num cabaret frequentado pelas elites endinheiradas venezuelanas. Álvaro vai revisitar Havana, onde por hábito deambula as horas pela Cidade Antiga. Despreza Varadero, e o seu sonho é bombardear Guantánamo, e Consuelo confessa-se admiradora de Fidel, apaixonada por Che. Falam da vida cá e de lá, trocam endereços, e Álvaro começa a questionar se os seus 15 dias serão suficientes para ir a Caracas, só de fugida, um dia ou dois, não mais. Um copo mais tarde já tinha tudo combinado, Consuelo espera-o daí a 10 dias.
Começam a descer, e o Álvaro recebe um beijo de “boa sorte”, que retribui, completando a descida de mão na mão e olhos cerrados. Ainda hoje, apesar das muitas horas de voo, nunca superou o pavor – Esta estupidez é só nas aterragens, já viste? Não, infelizmente nunca viajámos juntos. As rodas tocam no solo, a travagem, o caminho até à gare e a calma regressa. Desapertam os cintos, levanta-se, recolhe a sua bagagem de mão e uma pequena mala bem colorida e perfumada. Ela agradece com um sorriso esperançoso. As portas já abriram e é quando começam penosamente a percorer a coxia em direcção a uma das portas que repara. Consuelo, atrás de si e amparada pelos bancos, cambaleia ligeiramente. É alta, e tal como ele, as muitas horas de imobilidade podem provocar aquele formigueiro dormente que tantas vezes o atormenta às chegadas. É finalmente em plena pista que conhece Consuelo.
-Puta que pariu, a gaja é coxa!
Ainda no início das muitas horas em que o voo cruza o Oceano, Consuelo mete conversa, naquele estilo ibero-americano alegre de viver, e compartilha algumas das suas histórias com o meu amigo. Trabalha em Caracas, no sopé do Ávila, há já dois anos. Nem parecia tanto tempo, desde que abandonou as fortalezas de San Juan, para seguir uma amiga com quem compartilha um apartamento. Toca piano e quando pode dá aulas, diz ela, enquanto ele não baixa guarda aos olhos de verdes de Consuelo - Eram um consolo, juro-te! O Álvaro é um tipo fechado, pouco fala, e muito menos de si, mas aos poucos é-lhe arrancada a profissão. É bancário, solteiro, e padece de uma misoginia mal resolvida. Afinal até gosta de mulheres, mas companhia certa é não é coisa que admita no seu espaço, onde até tem um Steinway onde assustadoramente martela Chopin. Já perto do fim da viajem, Consuelo confidencia que trabalha num cabaret frequentado pelas elites endinheiradas venezuelanas. Álvaro vai revisitar Havana, onde por hábito deambula as horas pela Cidade Antiga. Despreza Varadero, e o seu sonho é bombardear Guantánamo, e Consuelo confessa-se admiradora de Fidel, apaixonada por Che. Falam da vida cá e de lá, trocam endereços, e Álvaro começa a questionar se os seus 15 dias serão suficientes para ir a Caracas, só de fugida, um dia ou dois, não mais. Um copo mais tarde já tinha tudo combinado, Consuelo espera-o daí a 10 dias.
Começam a descer, e o Álvaro recebe um beijo de “boa sorte”, que retribui, completando a descida de mão na mão e olhos cerrados. Ainda hoje, apesar das muitas horas de voo, nunca superou o pavor – Esta estupidez é só nas aterragens, já viste? Não, infelizmente nunca viajámos juntos. As rodas tocam no solo, a travagem, o caminho até à gare e a calma regressa. Desapertam os cintos, levanta-se, recolhe a sua bagagem de mão e uma pequena mala bem colorida e perfumada. Ela agradece com um sorriso esperançoso. As portas já abriram e é quando começam penosamente a percorer a coxia em direcção a uma das portas que repara. Consuelo, atrás de si e amparada pelos bancos, cambaleia ligeiramente. É alta, e tal como ele, as muitas horas de imobilidade podem provocar aquele formigueiro dormente que tantas vezes o atormenta às chegadas. É finalmente em plena pista que conhece Consuelo.
-Puta que pariu, a gaja é coxa!
01 março 2007
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